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Sudário de Turim, uma farsa ou uma realidade?- Parte 1






Uma crença arraigada durante séculos, transmitida por tradição oral, viu no Sudário de Turim o lençol que amortalhou o corpo de Cristo. As investigações levadas a cabo a partir da primeira fotografia tirada do lençol projetaram luzes novas e surpreendentes que apoiavam essa crença como a explicação mais plausível.
Ora, temos um documento histórico, os testemunhos evangélicos, que nos relatam, com base em fatos observados por testemunhas presenciais, não apenas a crucifixão de Cristo, mas o itinerário da sua paixão até à morte e à sepultura: Jesus é o Servo sofredor, seviciado, flagelado, crucificado, desfigurado pelas brutalidades a que o submeteram, imolado como cordeiro pascal. Até que ponto o Sudário recolhe essas circunstâncias históricas?

UM CORPO BARBARAMENTE FLAGELADO:



Mateus, Marcos e João relatam que Pilatos, tentando demover a multidão, que exigia a crucifixão de Cristo, manda os soldados romanos açoitarem Jesus (cfr. Jo 19, 1; Mt 27, 26; Mc 15, 16). Que nos revela o Sudário neste ponto?

Os romanos não flagelavam os condenados à crucifixão, a não ser moderadamente e enquanto estes transportavam a cruz até o lugar de execução. Ora, o Sudário revela traços de feridas que mostram ter o homem de Turim sido brutalmente flagelado por todo o corpo, à exceção da cabeça, pés e antebraços. Veja figura abaixo.



As feridas são numerosas, entre 110 e 120, e tanto pelo tamanho como pela forma são idênticas às produzidas pelo flagrum taxillatum romano, o "horrível flagelo" – um açoite de correias com pedaços de chumbo ou ossos de arestas cortantes nas pontas. Além das marcas das feridas, os cientistas puderam descobrir dentro delas os vestígios de perfurações na carne. Os golpes eram tão bárbaros que a lei romana proibia castigar com o flagrum os que fossem cidadãos romanos. Tanto pelo número de chicotadas – os judeus estavam proibidos pela lei de ultrapassar os 40 açoites (Dt 25, 3) –, como pelo flagelo empregado, vê-se que há coincidência com os dados do Evangelho: o castigo foi aplicado por soldados romanos.
Pelo ângulo das chicotadas, pode-se inferir que eram dois os algozes – um de cada lado –, pois os golpes convergem para dois pontos focais com uma extraordinária precisão geométrica. Esta comprovação exclui que a flagelação tivesse ocorrido enquanto o condenado transportava a cruz, já que neste caso os golpes teriam sido geometricamente desordenados. Outra coincidência com o Evangelho.

Mas a coincidência mais importante com o relato evangélico é a que explica a crueldade excepcional da flagelação que, como vimos, não era usual aplicar previamente a um condenado à crucifixão.

Relatam os Evangelhos que, inicialmente, Pilatos afastou a idéia da crucifixão reclamada pelo povo, pois sabia que Jesus era inocente (Jo 18, 38). Para contemporizar, manda açoitar Jesus, pensando que desse modo abrandaria o coração dos judeus. Mas a vista de Jesus desfeito pelos azorragues deixou o povo ainda mais raivoso: Fora com ele! Crucifica-o!, clamavam. Depois de uma nova tentativa, Pilatos, acovardado, cede: Então entregou-o a eles para que o crucificassem (Jo 19, 15-16). A mudança de opinião de Pilatos é o que explica, pois, a sucessão dos dois suplícios que Jesus sofreu, à diferença do comum dos condenados.
Uma última particularidade: os antebraços de Jesus não foram atingidos pelos flagelos, e isto indica que foi açoitado antes de carregar a cruz, pois os braços estavam atados à coluna, e portanto fora do alcance dos açoites.






A COROAÇÃO DE ESPINHOS:



As pessoas condenadas a morrer numa cruz costumavam ser salteadores, escravos que tinham praticado algum crime especialmente grave, ou agitadores que tivessem cometido um delito contra o Estado romano. Evidentemente, essas pessoas não eram coroadas como reis antes de serem crucificadas. Nenhum documento antigo nos fala disso.

Chegamos aqui a um testemunho absolutamente capital para se identificar o homem do Sudário: por que esse homem teve a cabeça ensangüentada por uma coroa de espinhos, quando ainda estava vivo? Os Evangelhos explicam-nos porquê. Os soldados romanos tinham ouvido os chefes judeus acusarem Jesus de blasfemar porque se dizia Deus; e sabiam que, à pergunta de Pilatos: És tu o rei dos judeus?, Jesus respondera: Tu o dizes, eu sou rei. Para isto nasci e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade (Jo 18, 37).

Depois de flagelarem Jesus, resolvem, pois, entreter-se fazendo-o rei de palhaçada, e colocam-lhe por manto real um pano vermelho, por cetro uma cana entre as mãos, e por coroa de ouro e pedras um capacete de espinhos: Então os soldados do procurador, conduzindo Jesus ao Pretório, reuniram ao redor dele toda a coorte. E despojando-o das vestes, lançaram-lhe em cima um manto escarlate. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e na mão direita uma cana; e dobrando o joelho diante dele, diziam escarnecendo: "Salve, rei dos judeus". Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da cana, davam-lhe golpes na cabeça (Mt 27, 27-30).




Esta modalidade insólita de maus tratos é documentada de modo insuspeito pelo Sudário: toda a calota craneana apresenta feridas resultantes de objetos perfurantes finos, que coincidem com os espinhos de uma possível coroa em forma de capacete, capazes de dilacerar a golpe de pancadas o couro cabeludo; distinguem-se perfeitamente na mortalha os ferimentos da testa e sobretudo os da nuca como mostra a primeira fotografia do sudário acima em negativo.
É de notar a excepcional documentação morfológica do sangue, com as características de ter manado em vida, e que impregna profusamente, misturado com o suor, toda a massa dos cabelos.

Em 1968, em três sepulcros de Jerusalém, encontraram-se os ossos de 35 pessoas. O esqueleto de uma delas mostrava que havia sido crucificada: os ossos dos pés estavam trespassados por pregos, e os das pernas quebrados.

No Sudário, um sulco de sangue parte do pé direito e do calcanhar esquerdo: um único prego perfurou os dois pés, cruzados um sobre o outro.
Aparece também claramente uma chaga profunda na altura do pulso esquerdo. O pulso direito está encoberto pela mão esquerda, pois cruzaram as mãos diante do corpo antes de sepultar o cadáver; mas também aparece, em duas direções, o sangue que correu abundantemente do pulso esquerdo ao longo do antebraço. Não contradiz este dado a tradição cristã e os artistas, que sempre representaram Jesus crucificado pela palma das mãos?

Na verdade, o Evangelho não diz que Jesus foi crucificado pela palma das mãos. Quando Jesus se dirige a Tomé e lhe diz que olhe as suas mãos, não quer dizer que exclua os punhos, os quais, como se sabe, fazem parte das mãos (carpo). Por outro lado, a palavra hebraica Yad, usada na profecia messiânica – trespassaram-lhe as mãos e os pés (SI 22, 16) –, era usada com grande variedade de aplicações, chegando a designar o antebraço e até o cotovelo.

Os crucificados não eram pregados na cruz atravessando-lhes a palma da mão, pois desse modo as mãos se rasgariam e o corpo certamente se desprenderia da cruz. No pulso localiza-se o espaço de Destot que, atravessado pelo prego e amparado nos ossos que o rodeiam, pode sustentar o peso do corpo e permitir-lhe os movimentos necessários para a frente e para trás. Veja marcas dos cravos nas mãos impressas no sudário em negativo abaixo.



Durante muito tempo, uma observação atenta do lençol teria levado à conclusão de que o homem do Sudário tinha apenas quatro dedos: não se descobriam sinais do polegar. Foi um cirurgião de Paris, o Dr. Barbet, quem achou a explicação: um prego introduzido no espaço de Destot secciona ou prejudica necessariamente o nervo mediano, o nervo que flexiona os polegares, fazendo-os encolher-se para o interior da mão. Pesquisas recentes, feitas por computador, obtiveram imagens em que se observa que os polegares do homem do Sudário estão presentes na figura, mas dobrados bem junto da palma da mão.
O espaço de Destot só foi descrito anatomicamente no século XIX. Como poderia um pintor ou um eventual falsificador saber das conseqüências que um prego nele cravado provocaria no polegar, de modo a reproduzi-las na mortalha?

A MORTE:

O homem do Sudário morreu por crucifixão, isto é, em conseqüência da asfixia que dela resultou. A posição de um crucificado, com os braços presos no alto e o corpo pendurado dos mesmos, acaba por dificultar os movimentos da caixa torácica, iniciando um processo de asfixia. Para respirar, o condenado precisa erguer o corpo, flexionando os braços e apoiando-se tanto quanto possível nas pernas, esticando-as ao máximo para que o corpo suba.

O Sudário indica tanto a posição normal como a posição erguida: esta, resultante do esforço para respirar, aquela indicando a posição caída, determinada pelo cansaço. Dois fluxos de sangue, com uma divergência aproximada de 10 graus, se percebem imediatamente nos antebraços, especialmente no braço esquerdo, indicando as duas posições do corpo.

Mas esse movimento para cima e para baixo tem um limite determinado pelo esgotamento muscular e pela dor das feridas abertas pelos pregos. O esforço muscular contínuo faz surgir cãibras, contrações tetânicas dos músculos peitorais e intercostais que, pela acumulação de ácido láctico, vão-se tornando rígidos: o condenado vai tendo cada vez maior dificuldade em respirar, sobretudo em expirar, e ainda que consiga reerguer-se para aliviar a pressão que sente nos músculos do peito, recai logo na posição baixa e a asfixia começa novamente. A isto deve acrescentar-se que a posição do corpo favorece a concentração de sangue nas pernas e na cavidade abdominal, com o que diminui o volume sanguíneo que chega aos pulmões.

O homem de Turim conserva os traços dessa morte por asfixia, principalmente o peito dilatado por não poder soltar o ar e o ventre inchado pelo acúmulo de sangue. Observe figuras acima do tórax do homem do sudário.

Uma coincidência importante entre a linguagem do Sudário e o relato evangélico é que o homem do Sudário não teve as pernas quebradas. Diz São João: Como era dia da Preparação (da Páscoa), para que os corpos não ficassem na cruz em dia de sábado, por ser grande dia aquele sábado, os judeus rogaram a Pilatos que lhes quebrassem as pernas e os tirassem. Vieram, pois, os soldados e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele estava crucificado. Chegando a Jesus, como o viram já morto, não lhe quebraram as pernas...

É sabido que os crucificados podiam sobreviver por muitas horas e mesmo dias, e que, para apressar-lhes a morte, era freqüente quebrarem-lhes as pernas pelo tornozelo: a morte sobrevinha então rapidamente, não só pela hemorragia, mas principalmente porque deixavam de poder apoiar-se nos pés para conseguirem erguer-se e respirar.

Mas Jesus – como o homem de Turim – é levantado sobre a cruz num estado de fraqueza extrema pela violência da flagelação a que foi submetido. Os maus tratos, as pancadas e socos, e sobretudo a flagelação – uma flagelação selvagem – provocaram não só hemorragias externas, mas internas, e provavelmente o líquido hemorrágico foi comprimindo os pulmões e acelerou a morte por asfixia, em conseqüência do derrame pleural.

O certo é que Jesus morreu antes do que a maioria dos crucificados e antes do que os outros dois que foram supliciados juntamente com Ele. Conta São Marcos que, quando José de Arimatéia se dirigiu à presença de Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus, Pilatos admirou-se de que ele tivesse morrido tão depressa, ao ponto de ter chamado o centurião para que lhe confirmasse a notícia (Mc 15, 43-45).

UMA LANÇA ABRIU-LHE O LADO:

Uma das comprovações mais comoventes do Sudário é a marca de uma ferida no peito causada por uma lança.

O quarto evangelista, São João, que foi testemunha ocular, relata que, depois de Jesus ter morrido, um soldado romano lhe atravessou o peito com uma lança para certificar-se de que já estava morto e não era preciso apressar-lhe a morte: Chegando a Jesus, como o viram já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados atravessou-lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. E o Apóstolo acrescenta solenemente: Aquele que o viu dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; ele sabe que diz a verdade, para que todos vós creiais (19, 30-35).

O Sudário mostra uma ferida no flanco direito, veja detalhes na figura logo abaixo, causada por uma lança do tipo usado pelos soldados romanos no século I da nossa era: sem ganchos que alargassem a ferida e sem nervuras de reforço, tal como as que se utilizavam em motins para ferir depressa e mortalmente, de modo a retirar a arma e visar imediatamente outro adversário.

O golpe foi dado no lado direito, exatamente como os soldados romanos eram treinados a fazer para atingir os adversários, que protegiam o lado esquerdo, o do coração, com um escudo.
A ferida tem 4 cms. – largura máxima das lanças romanas – e atingiu o hemitórax entre a 5ª. e a 6ª. costelas, a 13 cm do esterno.

Percebe-se claramente que a lançada foi desferida depois da morte, porque a ferida ficou aberta, o que não sucederia se fosse feita em pessoa viva. Por outro lado, há indícios de que o sangue saiu sem força, o que dá a entender que o coração já estava parado.
Sobre o tecido, vê-se uma dupla mancha: uma de sangue e outra, quase incolor, que se tornou bem visível quando se usaram raios ultravioletas na observação. Os dois líquidos correram abundantemente até formarem uma espécie de círculo em torno dos rins 11, veja detalhes na primeira figura do sudário em negativo no início do artigo.

Como vimos, o quarto evangelista afirma que da ferida saiu imediatamente sangue e água. O sangue procedia do coração e talvez de hematomas causados pelas hemorragias internas a que antes nos referimos. Quanto ao que São João chama água e que corresponderia à mancha incolor observada no pano, é muito provavelmente uma mistura de soro sanguíneo – resultante dos hematomas – e de líquido pericárdico, situado dentro do saco pericárdico que envolve o coração. Este líquido é tanto mais abundante quanto maior e mais abundante for o sofrimento da pessoa; constitui até uma prova usada em medicina legal para saber se a vítima foi seviciada antes de morrer.
A constatação de São João, de uma precisão extraordinária, mostra que Cristo sofreu muitíssimo durante a sua paixão.

OUTRAS COINCIDÊNCIAS:

O Sudário revela ainda que o homem nele amortalhado deve ter recebido pancadas violentas no rosto, pois se percebe um inchaço notável em torno do olho direito, veja figura abaixo, além de várias escoriações. Ocorre espontaneamente pensar no que relata São Mateus: Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas dizendo: Adivinha, ó Cristo: quem te bateu? (Mt 26, 67-68).

No nariz, nota-se uma dupla ferida, assim como uma deformação da borda, ocasionada provavelmente por uma ruptura ou deslocamento da parte cartilaginosa. Os joelhos, por sua vez, revelam cortes e escoriações. O esquerdo apresenta uma ferida maior.

É muito provável que uma queda de bruços tenha provocado essas lesões. Imaginemos as condições em que o homem do Sudário foi levado ao local do suplício: com as mãos atadas ao travessão horizontal da cruz; extremamente debilitado em conseqüência da flagelação, dos socos e pontapés, etc; vestido com uma túnica em que era fácil ter pisado, na posição inclinada que o peso da cruz o obrigava a adotar.

Estes sinais no tecido parecem confirmar uma antiga tradição, segundo a qual Cristo teria caído várias vezes na sua caminhada para o monte Calvário. A própria alusão do Evangelho de Marcos a um certo Simão de Cirene que, passando por ali, foi requisitado para levar a cruz (15, 20-21), parece depor no sentido da extrema fraqueza e possíveis quedas de Cristo na subida até o local da execução.
E também de mencionar, por se tratar de uma exceção, que o homem do Sudário transportou a cruz vestido. Não era comum os condenados irem vestidos à crucifixão (1). Tanto São Marcos como
São Mateus dizem que Jesus foi ao Calvário com as próprias vestes

e São João refere que os soldados as dividiram em quatro partes, uma para cada soldado, e lançaram sortes sobre a túnica, que era inconsútil, para ver a quem cabia (Mt 27, 31; Mc 15, 20; Jo 19,23).

Ora, o Sudário revela que as lesões provocadas nos ombros pela flagelação foram relativamente pequenas. Sem dúvida teriam sido maiores se a cruz tivesse sido transportada sobre os ombros nus, sem nada que amortecesse o atrito da madeira (fig. 1). Outra coincidência significativa com o relato evangélico.



O SEPULTAMENTO:

Como já vimos, os romanos reservavam a crucifixão aos que tivessem cometido um crime grave ou um delito contra o Estado romano. Normalmente, o corpo dos executados não era reclamado por ninguém, sendo jogado na vala comum. Sem lençol.

Ora Jesus, crucificado como um escravo, foi condenado por Pilatos sob a acusação de ter conspirado contra o Estado romano. E, no entanto, escapou à vala comum. Seu corpo foi reclamado por um homem influente, José de Arimatéia, um discípulo secreto, que o envolveu num lençol novo, limpo, e o enterrou num túmulo que tinha comprado para si, próximo do lugar da crucifixão. Estes os dados precisos que nos chegaram através do Evangelho de São João.

O homem do Sudário também foi enterrado num lençol fino que, segundo se calcula, teria custado inúmeras horas de trabalho. Ë um detalhe que faz pensar efetivamente em José de Arimatéia, que sepultou Jesus e era um homem rico.

Mas há ainda um outro aspecto que parece quadrar com o que nos dizem os Evangelhos: a abundância de vestígios de sangue, a indicar claramente que o corpo não foi lavado antes de ser amortalhado, ao contrário do que era costume entre os judeus (At 9,37).

O corpo de Jesus recebeu sinais claros de respeito e distinção, como ser envolvido num lençol de linho e colocado num sepulcro novo, não em vala comum. No entanto, omitiram algo elementar entre os judeus: lavar o corpo antes de sepultá-lo.

O relato de São João permite-nos compreender por que isso aconteceu: "Tomaram, pois, o corpo de Jesus e envolveram-no em faixas de linho com os aromas, conforme é costume sepultar entre os judeus. Havia perto do lugar onde foi crucificado um horto, e no horto um sepulcro novo, no qual ainda ninguém fora depositado. Ali, pois, depuseram Jesus, por causa do dia da Preparação dos judeus..." (19, 40-42).

Vê-se assim a causa da omissão. Estava prestes a começar o grande Sábado pascal em que, como aliás em qualquer sábado, que é o dia santo dos judeus, se proibiam rigorosamente os trabalhos manuais. Por isso era preciso enterrar Jesus antes do pôr do sol da sexta-feira, e por isso não puderam lavar o corpo do Senhor: não havia tempo.

Isto explica também que, no primeiro dia útil, isto é, o domingo, as santas mulheres tivessem ido ao sepulcro, levando os aromas que haviam preparado, a fim de completar o trabalho deixado a meio na sexta-feira santa.

A RESSURREIÇÃO:

O evangelista continua: ao amanhecer do primeiro dia da semana – o domingo –, Maria de Magdala encontra o túmulo aberto, corre a avisar Pedro, e este, com João, o discípulo que Jesus amava, corre também para o sepulcro; e ambos observam que o lençol se encontra “vazio”, manifestamente sem conter o volume de um corpo.

Depois, o próprio Cristo aparece a Maria Madalena, que ficara chorando ao pé do sepulcro (Jo 20, 14), e por fim aos próprios Apóstolos: Chegada a tarde daquele primeiro dia, estando fechadas as portas do lugar onde, por temor dos judeus, se achavam os discípulos, veio Jesus e, posto no meio deles, disse-lhes: "A paz seja convosco". E em dizendo isto mostrou-lhes as mãos e o lado, e os discípulos alegraram-se vendo o Senhor (Jo 20, 19-20).

Este o fato histórico que os Evangelhos nos relatam: a ressurreição de Jesus, testemunhada pelos Apóstolos e pelas santas mulheres, e ainda, como relata São Paulo, por muitos outros e por mais de quinhentos irmãos de uma só vez (1 Cor 15, 3-8).

O Sudário de Turim, que lança tanta luz sobre a paixão e morte de Cristo, numa sucessão espantosa de coincidências, terá também algo a dizer-nos sobre a sua ressurreição?

Fixemo-nos em três ponderações de vulto.

O corpo não se decompôs:

O corpo envolvido no Sudário achava-se em estado absoluto de enrijecimento causado pela morte (rigor mortis), e os patologistas estão em condições de afirmar que estava sem vida.
Ora, o corpo humano, ao cabo de cerca de trinta horas, começa a deixar sobre os panos que o envolvem uma espécie de pequenos cristais resultantes dos fenômenos que ocorrem no cadáver depois desse tempo, especialmente pela decomposição cadavérica. Mas os especialistas que estudaram o Sudário não encontraram o menor indício desses cristais entre as fibras do tecido. Isto indica que o lençol fúnebre não esteve muitos dias em contacto com o corpo sepultado.

O corpo não foi retirado por meios humanos normais

Mas o corpo poderia ter sido retirado da mortalha pelos próprios discípulos, como aliás se tentou propalar na ocasião (cfr. Mt 28, 13).

Os cientistas fizeram uma análise minuciosa do lençol e concluíram que por nenhum meio humano normal se teria conseguido separar uma ferida e o pano unido a ela, depois que o sangue secou, sem arrancar pequenas partículas do corpo, sem desfazer a correção anatômica da figura e a integridade estrutural das manchas de sangue e dos coágulos sanguíneos: as manchas ter-se-iam desfeito e espalhado. Todavia, encontram-se intactas.
A separação natural deixaria no tecido sinais de fibras de linho que, grudadas à ferida e ao sangue, teriam sido repuxadas ao separar-se o cadáver da mortalha que o envolvera. A observação microscópica não captou nenhum desses indícios: depois de aumentados 32 vezes, o centro e as bordas das manchas de sangue não revelaram nenhum sinal de repuxamento das fibras.

A origem da figura:

É sabido que os cientistas não conseguiram desvendar o mistério relativo ao processo técnico que teria originado a formação da figura do Sudário. As conclusões científicas apenas nos dizem como é que esta não foi gravada no tecido: não foi pintada, não foi formada por contato direto – à exceção das manchas de sangue – nem mediante vapores ou qualquer outro processo conhecido no nosso século e muito menos no século XIV.

Segundo vimos, a teoria mais plausível de todas é a da chamuscadura ocasionada por calor ou por uma luz intensa. Mas o que teria causado essa chamuscadura? Como é que o corpo de um cadáver pode produzir calor ou luz? Não resta outra hipótese senão a de que, ao ressuscitar, o corpo de Cristo irradiasse esse calor ou essa luz . O Sudário não diz que Cristo ressuscitou, mas não só não se opõe à ressurreição, como parece apontar para esse fato histórico como a explicação mais plausível para a formação da figura impressa no lençol.
Na figura acima observa-se a formação de uma “Sombra” permanente de uma válvula numa parede em Hiroshima, produzida pelo brilho fortíssimo da explosão atômica. Um processo semelhante – talvez no momento da Ressurreição – teria originado a imagem no Sudário.

CONCLUSÕES:

As coincidências:

Vale a pena enumerar sucintamente as coincidências existentes entre o homem do Sudário e Jesus de Nazaré:
1. A partir do séc. VII, passa-se a adotar na arte religiosa um único modelo para representar Jesus, no qual se distinguem pelo menos 15 detalhes que se encontram na figura do Sudário.

2. A figura estampada no lençol representa um semita com barba e cabelo comprido e entrançado, como se usava na Palestina no tempo de Cristo.
3. A brutal flagelação, insólita em condenados à crucifixão, executada com o flagrum romano; este castigo não era aplicado aos cidadãos romanos.
4. A coroação de espinhos, circunstância igualmente insólita.
5. O homem do Sudário não foi despido até o lugar da execução, o que também não era usual.
6. As pernas não foram quebradas, ao contrário do que se fazia nos casos de crucifixão, para apressar a morte do condenado.
7. Uma lança de forma igual à que usavam os soldados romanos atravessa o lado direito, após a morte.
8. O crucificado não foi enterrado na vala comum, mas sepultado individualmente e com uma peça de linho cara.
9. Foi sepultado cuidadosamente, mas não lhe lavaram o corpo.
10. O cadáver abandonou o lençol fúnebre antes de entrar em decomposição.


A sabedoria de Deus:

Diversos especialistas de renome aplicaram a estes dados o cálculo de probabilidades, para saber qual a probabilidade de que o homem do Sudário não fosse Jesus Cristo. Para uns, é de um para um octilhão, isto é, de 1 para 1027 (a unidade seguida de vinte e sete zeros). Para os mais prudentes, é de um para 262 bilhões. Pode-se dizer que a probabilidade é tão insignificante que, na prática, é como se não existisse.

A conclusão que se impõe é a de que, à vista dos fatos, a explicação mais plausível, a única satisfatória é que o homem do Sudário é Jesus de Nazaré, e que o Lençol de Turim é o lençol fúnebre com que José de Arimatéia e Nicodemos envolveram o corpo de Cristo. O paralelismo entre o tecido e os testemunhos evangélicos é perfeito: nada a mais, nada a menos. No dizer de Jean-Charles Thomas, "o Sudário é como um quinto Evangelho, inteiramente centrado na Paixão e na Ressurreição de Cristo, que representam o coração da mensagem cristã" (2). Um Evangelho escrito com caracteres de sangue.

Yves Delage, professor de Anatomia na Sorbonne, membro da Academia Francesa e agnóstico confesso, concluiu já em 1902 que o Sudário era o lençol de Jesus. Severamente criticado, teve a seguinte observação: "Injetou-se desnecessariamente um problema religioso num assunto que, em si, é puramente científico, e o resultado foi que os sentimentos se excitaram e a razão foi posta de parte. Se, em vez de Cristo, se tratasse de outra pessoa, como um Sargão, um Aquiles ou um dos Faraós, ninguém teria pensado em fazer a mínima objeção" (3).

Ë de admirar a sabedoria de Deus, que vem em socorro do homem num século em que a ciência e o áudio-visual conquistaram um lugar preponderante nas nossas maneiras de pensar. Nesta nova fase da humanidade, Deus, por assim dizer, dá-se a ver, a observar, a investigar, a fotografar, fortalecendo a fé pela ciência.

Ninguém é coagido a crer: Jesus não constrangeu ninguém a segui-Lo. Mas ninguém pode ficar insensível; e os que fogem dele, esses sabem muito bem que fogem – ao menos provisoriamente, porque ninguém pode fugir para sempre do olhar de Deus.



(1) Kenneth E. Stevenson e Gary R. Habermas, A verdade sobre o Sudário, 2a. Edição, Paulinas, São Paulo, 1983.

(2) Jean-Charles Thomas, Le Linceul de Turin, Coll. Du Laurier, Paris, 1948.

(3) Stevenson e Habermas, op. cit., pág. 48.

Referência:

Estudo realizado por Jaime Espinosa - Sacerdote e Médico, foi professor na PUC e é um estudioso do tema.






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